29.2.08



ENTREVISTA: EDU K
Misturando baile funk, house, hip hop, punk, new rave, electro e o que mais cair em suas garras de luvinhas fosforescentes, Edu K se lança em carreira internacional. Mas ele nunca está satisfeito, o tempo é curto diante da enorme vontade de experimentar de tudo nessa busca louca do novo. Montou a primeira banda aos dez anos, na improvável Foz de Iguaçu. Aos 13, fundou o Fluxo - que se transformaria no Defalla, um dos grupos mais influentes na sonoridade do rock brasileiro dos anos 1990. Mas Edu não olha para trás. Sempre embriagado por essa droga pesada chamada fama, não se arrepende dos micos televisivos e dos disfarces camaleônicos: "A incompreensão é o preço a pagar pela liberdade total".

Antes de tudo: a carreira internacional. Fala sobre ela.

Foi uma parada que rolou porque tinha que ser. Desde a época do Defalla meu sonho era viajar o mundo fazendo shows. Há uns dois anos e meio, o Flu me deu um toque que o Hermano Vianna disse pra ele que um DJ alemão tava querendo lançar a "Popozuda Rock N' Roll" numa coletânea de Baile Funk, a Favela Booty Beats. O tal DJ de Berlim era o Daniel Haaksman, dono do selo Man Recordings, que acabou lançando o Frenétiko, meu primeiro CD solo internacional. Já fiz 6 tours lá fora: Europa (duas vezes), Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Já toquei em New York, Montreal, Londres, Paris, Varsóvia, Viena, Tel Aviv, um monte de lugares. A "Popozuda" foi usada numa campanha da Coca-Cola na Europa e "Gatas, Gatas, Gatas" tá sendo usada na nova campanha mundial prum celular da Sony Ericsson. E o legal é que, por causa dessa campanha, rolou de fazer um vídeo gringo com o Bryan Barber, diretor de "Hey Ya" e do filme Idlewild, do Outkast. Ficou foda, tipo uma Maria Antonieta do inferno. Tá lá na minha página do MySpace.

Como é a recepção desse Neo Funk lá fora? Qual é a diferença entre essa turma que inclui tu, o DJ Chernobyl e o Bonde do Rolê e o pessoal lá no Rio? Essa é a grande contribuição brasileira pro cenário da música eletrônica contemporânea?

A galera delira. Quando começa o batidão, a mulherada enlouquece em qualquer lugar do mundo. Tem que ver as polonesas dançando funk! Essa é a música considerada a mais moderna e mais brazuca, num sentido que esse tipo de som só é feito desse jeito por aqui. Tem uma puta personalidade brasileira, mas ao mesmo tempo é mundial e contemporânea. Eles vêem o funk como uma evolução do hip-hop, isso é o mais legal. Mas o mais bizarro é que o tipo de som que eu faço é como a versão de um gringo pro funk. Eu tenho tantas influências e referências misturadas no meu som que é inevitável ficar com uma cara gringa. Mas ao mesmo tempo tem a tosqueira também. Acho que é justamente essa a diferença entre o nosso funk e o do Rio. A nossa galera veio do rock e essa pegada dá pra sentir no som e nos shows. Tipo, a Marina é o Iggy Pop de saias do baile. Tá, nem sempre de saias, né!

Teu grande objetivo parecer ser alcançar as massas. Qual é dessa busca: comunicar ou fama é o grande barato?

Pura megalomania. Não dá pra negar: fama é uma droga pesada. Mas também faço tudo o que faço porque rola um certo comichão e eu não consigo segurar. Tenho que botar essa música que fica rolando na minha cabeça pra fora. Mas o ego tem uns bons 80% de culpa nisso tudo.

Tu escuta tuas coisas antigas, os discos do Defalla?

Não. O que tá no passado fica lá. Pelo menos com as coisas que eu mesmo fiz. Não tenho muita paciência: mal acabo uma parada, já tô pensando na próxima e não suporto mais o que acabei de fazer! É uma loucura. Até eu mesmo tô ficando meio de saco cheio disso.

Final dos anos 80, o Defalla consagrado pela crítica com um segundo disco matador. Show no Teatro Presidente, Porto Alegre inteira louca pela banda. Daí vocês chegam lá e tocam tudo nuns arranjos hard rock, os hits irreconhecíveis. A própria mimetização a que tu te submete, mudando de visual e estilo o tempo todo, explicitando as referências. Esse camaleonismo é uma provocação ou a própria essência da criação?

Um pouco de cada. A provocação talvez venha em primeiro plano. Sempre me divirto imaginando a reação da galera às minhas micagens de circo e doideras. Mas acho que criatividade é assim mesmo: não dá e não tem que segurar. Essa parada de ficar mudando toda hora, além de dar uma enorme sensação de estar vivo, tem uma raiz no lance da geração pós-punk, da qual fiz parte, de se reinventar toda hora. Também tem um baita dedo do Miranda. Quando cheguei em Porto Alegre nos anos 80, o Miranda era o guru da galera do rock que se ligava em new wave e pós-punk. Ele me mostrou muitos dos sons que me influenciaram e tinha muito disso de mudar a roupagem das músicas na banda dele, o Urubu Rei. Isso me influenciou muito.

Em virtude disso, já te sentiu artisticamente incompreendido?

Já sim, mas isso é frescura. Tem que agüentar no osso, afinal isso faz parte. É o preço a pagar pela liberdade total. Mas não tô nem aí. Prefiro minha liberdade pra despirocar o quanto eu quiser.

Cita 5 discos fundamentais e comenta.

Raw Power (Iggy & The Stooges): Putz, esse é o foda! O Iggy é uma das minhas maiores inspirações, ele e o Keith Richards. Apesar de todo mundo, ou talvez até por isso, preferir os dois primeiros com a formação original, eu sou bem mais esse com o James Williamson na guita e o Iggy no auge, fazendo troca-troca com o Bowie. Hahaha!

Exile On Main Street (The Rolling Stones): Chega a ser ridículo comentar esses discos. Mas, nessa época o Keith tava na sua melhor fase, tanto musical quanto visual. É muito foda. Os Stones ensinaram todo mundo que o rock era feio, sujo e malvado e foi por causa deles que eu caí nessa vida.

Bitches Brew (Miles Davis): Ah, esse é muito mestre. O disco é inacreditável e as notas do Miles são tão afiadas que chegam à doer. Meu sonho é ter uma banda assim um dia: só improviso e viagem.

It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back (Public Enemy): Esse disco foi um marco na minha vida. Realmente fodeu com a minha mente. O estilo de produção de Hank Shocklee e Bomb Squad influenciou toda a música eletrônica que veio depois, sem tirar nem por. Foi o disco que me fez começar a fazer música eletrônica.

Metal Box/Second Edition (PiL): Outro disco que me abriu a cabeça ao meio. E foi o Miranda quem me mostrou. A primeira vez que ouvi "Death Disco/Swan Lake", com aquela baixaria grave dubesca do Jah Wobble, fiquei maluco! É aquela deliciosa e famosa sensação de "puta que pariu que som é esse" que até hoje eu procuro quando vou ouvir alguma parada nova. Pena que nem sempre rola.

Quem está fazendo a música mais interessante no Brasil e no mundo atualmente?

Hoje em dia é mole gravar um puta disco em casa. Mesmo. Aliás, que disco nada: a parada é fazer singles, é bem mais rápido. Participei do projeto Produtores Toddy, uma assessoria on-line pra músicos e bandas iniciantes, e entrei em contato com esse vasto universo de bandas novas que tão matando a pau: a Tango, que mistura tango com rock e tem um puta visual legal tipo Panic! At The Disco. Tem a Quarter, que é mais na praia do Fall Out Boy. Têm dois caras de São Paulo também que são mais da galera eletrônica que tão matando à pau: o Vicentin e o Wide Open Mind Project. Também adoro Rock Rockets, Pata de Elefante, Cachorro Gande... Já no mundo eu ando muito ligado nuns DJs de Londres que quebram tudo com um estilo de house mais pesado e mesclado com hip-hop, que uns chamam de Fidget, outros de Thug House. O Switch é o pai dessa galera toda. E o Sinden, o Hervé, o Trevor Loveys e os Crookers, da Itália, as crias.
Fala dos projetos. O que vem pela frente?

Em janeiro começa a sair a minha nova séria de 12 polegadas. O primeiro é com participação da Marina, ex-Bonde do Rolê: "Edu K (Me Bota Pra Dançar)". O segundo é "Despedida de Solteiro", com a Tigrinha. Essas músicas novas já mostram o meu novo som, que é uma mescla de Baile Funk, com Fidget House e Electro. Também tenho discotecado com o pseudônimo Supa Punk Deejay, tocando mais essa onda Fidget. Tô pra fechar um esquema pra produzir o próximo disco do Falcão, deus incontestável do brega nacional.

Sexual, financeira e filosoficamente falando, tu tá satisfeito?

Ah, o bom e velho Gimme Shelter: "Why are we fighting brothers?". Hahaha, isso me lembra o Júpiter lá no rio da Guarda... Cara, acho que se eu disser que tô satisfeito é mentira: a gente nunca tá satisfeito. Que venham cem anos!

myspace.com/edukfrenetiko

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2 Comments:

Blogger Flora Dutra said...

Depois do cara dizer que meu release pra Rockfort era bom e que eu deveria sair do interior e morar em Porto Alegre, segui seu conselho e aqui estou... Adorei a entrevista! Bju Flora
(e quero comprar teu livro)

5:28 PM  
Blogger Leonardo Prado said...

Meeeestre!!

1:51 PM  

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