5.10.07

RAPIDINHAS

1) Efemérides de 1967: os quarenta anos do proto-punk pop nihilista do disco da banana, dos disparos anti-establishment do situacionista Guy Debord em A Sociedade do Espetáculo, do Pepper's, do Piper e de uma porrada de discos psicodélicos aquecidos no Verão do Amor. Aqui no Brasil, no mormaço daquilo tudo (o tal do Espírito do Tempo): Caetano com Tropicália, as experiências pop do livro PanAmérica, de José Agrippino de Paula, a montagem definitiva de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, pelo Teatro Oficina do septuagenário Zé Celso Martinez (nascido em 1937, outra efeméride). Na província, o jornalista Rafael Guimaraens registrou em Teatro de Arena: Palco de Resistência a trajetória do pequeno teatro da escadaria do Viaduto da Borges, fundado um ano antes do bicho pegar no país com o infame AI-5. Personagens da realidade e da dramaturgia, as montagens marcantes ("Cordélia Brasil", "Os fuzis da senhora Carrar", "Mockinpot"), a bichogrilagem das Rodas de Som, de Carlinhos Hartlieb, e a sonzeira do Bicho da Seda, esmirilhando em pleno desbunde. Os anos de chumbo têm seu charme com aquele romantismo revolucionário de cabelos ao vento, mas passagens cabulosas como fac-símiles de roteiros censurados e uma carta do CCC, o Comando de Caça aos Comunistas, com ameaças ao "rende-vouz de homossexuais e prostitutas", nos fazem cair na real: que barra, bicho! Lançamento da Editora Libretos.

2) O cartunista britânico Ralph Steadman foi amigo e colaborador de Hunter Thompson. Fez as ilustrações de Medo e delírio em Las Vegas e de outras obras do falecido jornalista gonzo. Em Sigmund Freud, lançado originalmente em 1979, Steadman, digamos, penetra no universo do papai da psicanálise. Usando as técnicas analisadas por Freud em O chiste e sua relação com o inconsciente, Steadman cria situações humorísticas a partir de eventos reais da vida do doutor vienense. Piadas sobre, óbvio, sexo, anti-semitismo e escatologia se misturam a personalidades e fatos históricos e aspectos teóricos da psicanálise. Um exercício de Teoria do Riso, com a legítima leveza que o tema exige. O lançamento é da Ediouro.

3) Bonito de ver a legião de jovens fãs entoando em coro os refrões de quase todas as músicas na segunda apresentação do Black Eyed Peas em Porto Alegre. Graças à presença de alguns pais que acompanhavam a criançada, a média etária subiu pra 16. Pais com salário pra bancar os cem reais do ingresso, o que significa pais com salário pra bancar aulas de inglês, condição funbdamental pra que os refrões fossem entoados direitinho, como o foram. Os quarteto de rappers era apoiado por uma banda de quatro integrantes (um batera, um guitarrista, um terceiro se divindo entre sax, flauta e guitarra e o quarto, dublê de DJ e tecladista que também tocava trumpete, fez um solinho no bis em que citou "A Night in Tunisia", clássico bop de Dizzy Gillespie). Sem contar a meia dúzia de uns oito dançarinos e um quinto negãozinho que se juntou aos vocais no final (cantaram "Jump around", do House of Pain e o público não entendeu porra nenhuma). O show foi patrocinado por uma marca de refrigerante pra qual o grupo compôs um jingle. O refri também emprestava o nome pra casa de shows. Big business, afinal that's what rock'n roll is all about. Ou rap, no caso. Lá pelas tantas quatro adolescentes apareceram no palco. Vestiam camisetas azuis enormes, pareciam umas latinhas de refri ambulantes (e cantantes). Acompanharam o Black Eyed Peas no jingle, a consagração. Foram escolhidos numa promoção como a banda de abertura que graças ao bom deus eu perdi. Cheguei durante o mega hit "My humps". Diversão garantida, apesar da cerveja caríssima e dos humps da Fergie nem serem tudo aquilo. Pior era a cara da mulher que parecia ter tomado um monte de porrada no backstage, um rostão inchado e detonadão. Rebolava bem menos que na televisão. Tentou levantar a perna numa pose de yoga duas vezes e acabou tomando um tombo. A platéia, que ela já tinha botado no bolso momentos antes com um papinho de big girls don't cry, nem se importou. A loira é quem leva os louros mas a ervilha principal do Black Eyed Peas é mesmo Will.I.am, que comandou muito bem a execução de um rap divertido, miscigenado e livre da ladainha rançosa dos gangsta. Lá pelas tantas tive o mesmo insight do show da Lauryn Hill, no mesmo lugar quatro meses atrás: Jorge Ben = gênio.


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