19.3.07

15 Great Songs

(A lista abaixo foi publicada, há pouco mais de um ano, no extinto site Jornal do Rock RS, editado lá em Nova Petrópolis pelo Jacques, baterista da banda Piazitos Muertos. Ele me pediu que listasse 15 músicas prediletas. Obviamente incluí uns textinhos junto. Provavelmente se fosse fazer essa lista hoje, ela sairia um pouco diferente.)

“IF YOU SEE HER, SAY HELLO” / BOB DYLAN
Citação (não literal) do próprio autor acerca da predileção de muitos de seus fãs por este álbum de 74: “Não sei como as pessoas podem apreciar dor”. Mas é isso aí mesmo, a dor alheia, que afinal de contas podia muito bem ser nossa (a tal da empatia), faz sofrer em regozijo o nosso lado masoquista que dá pulinhos, sangrando faixa a faixa. Canções de amor sempre batem mais forte. E essa é especialmente bela e doída. O sujeito que apresentou o primeiro baseado pros Beatles expelindo do fundo do peito, de um lugar que certamente não são os pulmões: “And though our separation/ it pierced me to the heart/ she still leaves inside of me/ we’ve never been apart”.


“IT’S FUCKING BORING TO DEATH” / DEFALLA
Edu K, Flu (que era Flávio Santos na época), Castor e Biba: uma das melhores bandas do mundo. Uma vez fui à Tramandaí de carona pra ver um show dos caras. Isso no tempo em que eu tinha disposição pra essas coisas. “It’s fucking boring", música do segundo disco do grupo, é total nostalgia. Levada redondinha com letra escrota (com direito à citação de filme do Stanley Kubrick) ao melhor estilo Chainsaw Massacre. Pop perfeito.

“BLANK GENERATION” / RICHARD HELL & THE VOIDOIDS
O cara mais cool do pedaço. O creme de la creme do CBGB em 77, ano da melhor safra. Ex-baixista do Television e dos Heartbreakers (do falecido Johnny Thunders), em carreia solo-relâmpago com os Voidoids, puro punk-jazz. A música em questão, vocais rascantes e guitarredo esquizóide, virou até filme, além de definir a inquietação (ou o tédio) de uma geração inteira a partir de seu primeiro verso, aqui em tradução livre: “Eu tava querendo sair fora antes mesmo de ter nascido”.

“I’VE GOT YOU UNDER MY SKIN” / FRANK SINATRA
Par perfeito: o melhor compositor de música popular do século XX e o maior intérprete de todos os tempos. Cole Porter é o cara! E Sinatra um exemplo de classe em que todos os homens deveriam se espelhar. Classe pra cantar, atuar, beber uísque, se envolver em negócios escusos com a máfia, levar um pé na bunda do animal mais belo do mundo (a Ava Gardner, conforme a definição do Hemingway) e amargar um fundo do poço em que até latiu numa gravação bizarra do início dos anos 50. Não esta, obviamente. “I’ve got you under my skin” é a volta por cima no maior estilo. Só pra quem tem classe.

“CHANGES” / DAVID BOWIE
Tarefa difícil escolher uma de Mr. David Jones (a alcunha é a marca da faca que lhe vazou o olho). Fico com a faixa de abertura de um dos seus álbuns mais bonitos e confessionais, a particularmente emblemática “Changes”, com a célebre premonição final pra roqueiros com síndrome de Peter Pan: “Look out you rock’n rollers/ pretty soon you’re gonna get older”.

“STRAIGHT TO HELL” / THE CLASH
The best of them all. A banda a que eu queria ter assistido na máquina do tempo: o primeiro dos 16 shows que fizeram em Nova Iorque no verão de 81. O Clash foi a banda mais punk de todas porque superou o punk e buscou inspiração no jazz, no rap, no reggae, no funk... “Straight to Hell” sintetiza toda essa, digamos, busca.

“BILLY, THE MOUNTAIN” / FRANK ZAPPA
Outra daquelas difíceis: escolher uma das centenas de músicas desse cara que tem na discografia mais de 60 álbuns. Então chuto o balde e fico com os quase 25 minutos de “Billy, the Mountain”, espécie de rock-novela sobre uma montanha que sai de férias com a grana dos royalities de cartões postais e fotos em que aparece. Mister FZ e seus Mothers contavam nessa época com o auxílio, mais cômico que luxuoso, da dupla Mark Volman & Howard Kaylan, fundadores da banda pop sessentista The Turtles (Nota pedante: Volman & Kaylan também são aqueles backing vocals agudinhos nos discos Electric Warrior e The Slider, do T.Rex).

“WE’VE ONLY JUST BEGAN” / THE CARPENTERS
Essa música era tema de um comercial de TV nos anos 70. Mas era tão bonita que os Carpenters decidiram regravá-la, transformando-a num dos carros-chefe de seu segundo álbum, Close to You, de 1971. Curtis Mayfield, no disco Curtis/Live!, lançado no mesmo ano e gravado (ao vivo, of course) num buraco underground chamado Bitter End, em Nova Iorque, também regravou “We’ve Only Just Began” numa versão mais crua e low-fi que só não está aqui porque a Karen Carpenter é demais.

“LOVE IS IN NEED OF LOVE TODAY” / STEVIE WONDER
Ver Stevie Wonder em Porto Alegre foi realmente muito emocionante, apesar do show do Gil. “Love is in Need Of Love Today”, faixa de abertura do álbum duplo de 76, Songs in The Key of Life, tido como um dos melhores da discografia do talentoso ceguinho, estava no set list desse show.

“MALEVOLOSIDADE” / SUPERGUIDIS
Pra mim (e pro Gus, um amigo de quem eu roubei essa teoria) a música dos Superguidis está ligada a obras como o livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, ou o disco Brighten the Corners, do Pavement. O fator comum sendo uma certa ingenuidade por parte dos personagens/narradores daqueles pequenos devaneios lúdicos e melancólicos, coincidentemente duas palavras proparoxítonas, que são as canções. E o melhor de tudo é que os Caufields e Malkmuses dos Superguidis se expressam em português, e melhor ainda!, num português urbano que está aí nas ruas e nas bocas. “Malevolosidade”, com seu neologismo romântico de white sensitive guy, é típico exemplo da poética dos caras.

“SEVEN NATION ARMY” / THE WHITE STRIPES
Um novo clássico. Pra incluir naquelas listas clichê tipo Melhores de Todos os Tempos, ao lado de “Satisfaction”, “Stairway to Heaven”, “Smoke on the Water”, “Bohemian Raphsody”, “Smells Like Teen Spirit” etc.

“GIGANTIC” / PIXIES
Outra nostálgica, da mesma época em que eu tinha disposição pra ir à Tramandaí de carona assistir ao Defalla. Comprei o Surfer Rosa numa loja que hoje é aquela Multisom da Galeria Chaves. O vendedor tirou o vinil lacradinho do estoque. É o meu disco predileto dos Pixies. Adorava ouvir a Kim Deal nos vocais de “Gigantic”. Mais tarde li numa revista importada, ela dizendo que odiava white sensitive guys. Fiquei tão triste.

“EU E MINHA EX” / JÚPITER MAÇÃ
Os dedinhos do atonal Marcelo Birk (são dele os arranjos) contribuem para a realização de um dos momentos mais felizes do álbum A Sétima Efervescência, hoje transformado em objeto de culto. O adolescente cujo dilema existencial era a menstruação da namorada cresceu e é capaz de criar cenas de uma beleza cinematográfica, tais como a da ex dividindo o guarda-chuva pelas ruas da cidade. Porto Alegre redesenhada num cenário da Nouvelle Vague.

“HAPPINESS IS A WARM GUN” / THE BEATLES
Beatle predileto entre todos Beatles prediletos, Lennon era um cara que sabia da importância de uma boa letra pra uma boa canção. Mas o quesito conceitual não é desculpa pra incluir “Happiness is a warm gun”, uma mini-suíte que contém muito da produção dos earlys 70’s em menos de três minutos num disco de 1968.

“PABLO PICASSO” / THE MODERN LOVERS
Em torno dos Modern Lovers há uma aura de culto: os caras nunca lançaram um álbum oficial, tendo gravado duas demos produzidas pelo ex Velvet Underground John Cale, dissolveram a banda logo após o primeiro contrato e acabaram se transformando em um dos grupos mais influentes das últimas três décadas. Liderados pelo enfant terrible Jonathan Richman e tendo em sua formação o futuro Talking Head Jerry Harrison, os Lovers precederam o movimento punk em pelo menos três anos (sua primeira demo é de 72) e foram regravados por gente como David Bowie e os Sex Pistols. Em “Pablo Picasso”, Jonathan Richman nos premia com todo seu wit e sua nonchalance, coincidentemente duas palavras gringas bacanérrimas, no genial verso de abertura: “Some people try to pick up girls and get called asshole/ This never happened to Pablo Picasso”.


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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

bom comeco

11:16 AM  

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