30.3.07

Homens Notáveis I
Marcello Mastroianni


Para sempre será lembrado como galã. Não um galãzinho qualquer, desses que aparecem em seriado, estrelam meia dúzia de arrasa-quarteirões pra depois cair num ostracismo típico de filme B. Galã original, dos anos de ouro da galanteria cinematográfica. Italiano, como devem ser os de verdade. Supra-sumo, em suma, do latin lover. Dotado de um rosto terrivelmente comum, conforme disse uma vez. Talvez por isso o jeitão às vezes patético que o fazia também um mestre sutil da comédia. Galã que comete erros, deslizes, atos de covardia, fraqueza. Galã ordinariamente humano e por isso tão especial nesse universo de canastrões queixudos e imaculados. No teatro, foi dirigido por Luchino Visconti. No cinema idem, e ainda por outros grandes desta arte em que os italianos são considerados mestres. A lista, um menu de cantina: Antonioni, Fellini, Ferreri, Scola, De Sica, Monicelli. Não bastasse, celebrizou-se como par romântico da mulher mais linda de toda história do cinema: Sophia Loren. Morreu em 1996, aos 72 anos, com mais de 60 filmes no currículo. Com Catherine Deneuve em seu leito de morte, reza a lenda.


Pra conferir o homem naquilo que ele faz melhor basta aproveitar os últimos dias da mostra Marcello Mastroainni, no Santander Cultural. De hoje à segunda, algumas peças-chave de sua cinematografia. Em Um dia muito especial, de Ettore Scola, faz o papel de um improvável homossexual apaixonado por uma mãe de família em plena Itália de Mussolini. A noite é o filme emblemático da chamada estética da incomunicabilidade de Antonioni, Mastroianni e Jeane Moreau interpretam o casal em crise perambulando por uma noite vazia. A comilança, de Marco Ferreri, famosa comédia escatólogica sobre quatro amigos que se reunem para comer até a morte. Finalmente, o premiado La dolce vita, de Fellini, um dos maiores clássicos do cinema europeu, nele Mastroianni é Marcello Rubini, um jornalista especializado em fofocas que questiona o sentido de sua vida enquanto vaga por uma Roma de belas mulheres, crianças santas, príncipes, prostitutas e peixes gigantes.



Se ainda não viu, é a chance. Dá também pra pegar em DVD, mas ali, na penumbra da sala de cinema, sempre tem um charminho a mais. O galã merece.

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