1.2.08

Skate or die

Alex é um adolescente filho de pais separados que não se interessa por política nem curte muito a namorada. Leva a vida despreocupada dos teens até ser envolvido num crime na segunda vez em que visita o mítico Paranoid Park, uma pista de skate em Portland.

Diferente do que fazia em seus primeiros filmes, cheios de colagens e citações – e mais diferente ainda do dramalhão edificante de suas produções hollywoodianas – Gus Van Sant lapidou formalmente o tema dos jovens marginais do sonho americano (viciados, michês, lésbicas, assassinos, suicidas) num poema visual impactante. Paranoid Park flui no movimento de corpos em câmera lenta voando no espaço, cristalizados e perfeitos.

Essa transformação do cinema de Van Sant começou em 2002, com Gerry, um filme sobre dois homens perdidos no deserto, em que quase não há diálogos ou ação. Na cola de Gerry, o cineasta produziu dois filmes inspirados em fatos históricos: Elephant, sobre o massacre na escola de Columbine, e Last days, sobre o suicídio de Kurt Cobain. São filmes lentos, com narrativa fragmentada, em que a câmera fica colada aos personagens, capturando todos seus movimentos em closes que quase nos permitem ler seus pensamentos.

Gus Vant Sant sabe filmar os jovens e eles são o foco em Paranoid Park. Os adultos, ao contrário, estão sempre desfocados, na penumbra, fora de quadro (lembram os pais e professores do Snoopy, que nunca aparecem por inteiro e têm vozes pastosas e ininteligíveis). Um destaque no filme é a cinematografia belíssima de Christopher Doyle, que já havia trabalhado com Van Sant no remake de Psicose. Doyle é um mestre da fotografia (ele é o fotógrafo de todos os filmes Wong Kar Wai).

Apesar do mistério que permeia a narrativa, Paranoid Park é menos sobre o crime em que Alex é envolvido do que sobre as conseqüências subjetivas desse crime em sua vida. É um recorte dos "last days" de Alex como criança. A partir da pequena tragédia, o garoto vai entrar, forçosamente, na vida adulta. O filme acompanha esses acontecimentos a partir da narrativa do próprio protagonista, fragmentada e desconexa, como a memória.

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