27.4.08

Lio, by night:

1) Na quarta, 30 de abril, véspera de feriado, comemorando no Ocidente os 20 anos de carreira de nosso querido Paul, le coiffeur.

2) Na sexta, 02 de maio, com a estréia de mais uma (dominando!) Pulp, dessa vez no Porão do Beco: é a Pulp Freak Show, com Edu K e Tony da Gatorra.

A seguir, tudo bem explicadinho:

FESTA DO PAUL: 20 ANOS DE CARREIRA

Paulo Azevedo, o Paulinho (ou apenas Paul) é o cara operando as tesouras que fazem algumas das cabeças mais descoladas das redondezas. Sua clientela incluiu a turma dos roqueiros, o pessoal do teatro, formadores de todo tipo de opinião, garotas, garotas e mais garotas e anônimos cheios de estilo.
Sempre antenado nas novas tendências, ele recebe sua seleta clientela num espaço único. Incrustado no Centrão de Porto Alegre, o Salão do Paul é uma caverninha aconchegante, decorada no melhor estilo kitsch.
Em 2008, o Paul comemora 20 anos de carreira. Por cima, são mais de 50 mil cortes de cabelo. Haja tesoura!
Pra celebrar essas milhares de tesouradas, o Paul resolveu juntar os amigos e fazer festa, óbvio.
A FESTA DO PAUL: 20 ANOS DE CARREIRA acontece na próxima quarta, 30 de abril, no Bar Ocidente, com discotecagem superespecial dos amigos/clientes: Dante Longo, Márcio Paz, Dani Boy, Jimi Joe e Leo Felipe. Ingressos a R$15 (valendo uma cerveja) ou antecipados a R$12, no Salão (Marechal Floriano, 280/12).
Visite o Salão do Paul:
Marechal Floriano, 280/12 - Centro - POA/RS. Fone: (51) 3225 6019
Ou no Orkut.

PULP FREAK SHOW
Desde 2003 promovendo diversão na noite de Porto Alegre, a Pulp acontece mensalmente em duas edições: Pulp Friction, no segundo sábado do mês, no Bar Ocidente, e Pulp Cabaret, na última sexta, no Cabaret do Beco.
Agora a marca Pulp, sinômimo de FESTA!, estabelece conexão com outra casa da cidade. A nova irmãzinha, a Pulp Freak Show, escolheu o Porão do Beco pra, sempre na primeira sexta-feira, inaugurar o calendário de atividades festivas do mês. A estrutura do Porão do Beco, com palco e sonorização, possibilita um diferencial pra festa: os shows. De talentos emergentes a nomes consagrados, não importando o formato: banda de rock, combo eletrônico, live act ou DJ set. Sempre, é claro, acompanhado da discotecagem dos DJs residentes (e donos da festa), o Trio Frictura: Drégus, Rafahell e Leo Felipe.
Na estréia da Pulp Freak Show, o Trio Frictura recebe no palco do Porão dois convidados de peso, nomes de projeção internacional num duelo de freaks gigantes: Edu K e Tony da Gatorra.
Com seis turnês internacionais no currículo e preparando novo álbum, o camaleônico Edu K apresenta, pela primeira vez em Porto Alegre, sua nova fase como DJ e MC, misturando num mesmo set mashups, fidget house e pancadão. Em preparativos pra segunda turnê internacional, Tony, o criador da gatorra (que tem adeptos hypados como a vocalista do CSS Lovefoxx e o guitarrista do Franz Ferdinand Nick McCarthy), lança em Porto Alegre seu quarto CD, Novos Pensamentos (Slag Records, 2007). É a chance de conferir o trabalho destes artistas originais antes das próximas turnês. No meio do ano, Edu embarca pra Europa e Austrália e Tony deve tocar no Japão.
A estréia da Pulp Freak Show é na próxima sexta, 2 de maio, a partir das 23h, no Porão do Beco (Av. Independência, 936). Ingressos no local a R$15.
Saiba mais sobre as atrações:
Edu K está botando o mundo pra dançar! Depois de ter começado sua carreira internacional com o CD "Frenétiko" em 2006, lançado pelo selo alemão Man Recordings e de 6 tours internacionais incluindo Europa, Estados Unidos, Canadá, Israel e Austrália, Edu K está lançando mais um sucesso arrasador: sua parceria com Marina Vello (ex-Bonde Do Role) ,"(Edu K) Me Bota Pra Dançar" – seu mais novo 12" com remix dos reis do fidget house Italiano, os Crookers. Com nova tour pela Austrália (onde toca no mega festival de inverno, We Love Sounds) e pela Europa (onde toca no maior festival de música eletrônica da Alemanha, Melt!) marcada para Junho/Julho Edu K atualmente dá os últimos retoques em seu próximo CD, ainda sem nome, que contará com participações muito especiais do mundo todo como Madame Mim (São Paulo), MC Gi (Santos), Isa GT (Medellín/Londres),MC Dandão (Rio), Zuzuku & Candice Cannabis (NYC), Wannabeastar (Amsterdam), Barbi (Toronto), Barbarella (Curitiba) e muito mais! Além de ter estrelado recentemente a campanha da Sony Ericsson do celular W910i em vídeo dirigido por Bryan Barber - diretor de Idlewild e do vídeo de Hey Ya do Outkast – com a música "Gatas, Gatas, Gatas", Edu K é também um requisitado remixer, tendo trabalhado recentemente com Don Omar, Bublebeez, Nego Moçambique, Emily Karpel, Cowgum e Nouveau Beats. Com um novo som influenciado pelo fidget house inglês de DJs como Switch, Sinden, Hervé, Andy George, Foamo e os italianos Crookers Edu K estréia essa nova fase como DJ/MC, mesclando seu set de mashups e edits de fidget e baile funk com suas próprias faixas e clássicos como Popozuda Rock N' Roll.
Esteio, 24 de abril de 2008.
Eu sou Tony da Gatorra. Nasci em 03/08/1951, apresentei meu trabalho pela primeira vez em 1998 na rádio Ipanema, depois na tevê Band e em 2005 fiz vários shows em Porto Alegre. Consegui produtor e gravadora em São Paulo e em julho de 2007 participei de uma turnê na Europa. Toquei em Glasgow, Londres e Liverpool. Foi no projeto TrocaBrahma e eu toquei com Gruff Rhys da banda Super Furry Animals. Lancei meu 4º cd e estou aguardando confirmar uma turnê no Japão em meados de 2008. Já construí 10 gatorras, inclusive vendi a gatorra 7 pro Nick, ele é guitarrista da banda Franz Ferdinand. Toquei com ele na Escócia. Também vendi a gatorra 5 para a Lovefoxx, vocalista da canda Cansei de Ser Sexy. A idéia da gatorra surgiu em 1994 e foi pura inspiração, eu não esperava fazer tanto sucesso nem vender gatorras. Já fiz show em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Santos, Recife, Santa Catarina. Participei do Fórum Social Mundial 2, 3 e 5. Minhas músicas falam de paz, amor e protestam contra a exclusão da maioria dos brasileiros que vive na miséria, em direito à saúde, educação, segurança e moradia. Eu protesto contra o capitalismo. O nome da minha gravadora é Slag Records Corporation. Um abraço, Tony.
We accept you, one of us!

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26.4.08

HOMENS NOTÁVEIS VII
Rahsaan Roland Kirk

Em 1938, quando tinha apenas dois anos de idade, o menino Roland Kirk foi atendido em um hospital de sua cidade natal, Columbus, no estado de Ohio, nos Estados Unidos. A enfermeira, que, segundo ele “devia estar bêbada, chapada ou louca” aplicou o colírio errado nos olhos de Roland e ele ficou cego. A perda da visão não impediu que Roland Kirk se tornasse um dos saxofonistas mais inventivos de seu tempo. Não apenas saxofonista, foi um multi-instrumentista. Ao todo, tocava 45 instrumentos, entre sax baixo, tenor e soprano, clarinete, corneta, manzello, stritch, harmônica, flautas, apitos e criações próprias como o flexafone e o trompofone (híbridos de sax e trompete).

O mais surpreendente é que conseguia tocar boa parte disso ao mesmo tempo. A chamada técnica da respiração circular lhe permitia executar três saxofones simultaneamente enquanto espirrava através de uma flauta e peidava num apito. Uma penca de coisas pra assoprar ficava pendurada em seu pescoço esperando a vez. Mas não era apenas um virtuoso, tocava com muita emoção. Seus solos beiravam a exuberância caótica do free e traziam a marca da tradição musical afro-americana.

Apesar de já exibir todo esse fôlego em seu primeiro álbum (de 1956), é em 1961 que Roland Kirk revela o seu enorme potencial criativo. A sessão, liderada por Charles Mingus (ao piano, ao invés do contrabaixo) resultaria em dois álbuns: Oh Yeah (1962) e Tonight At Noon (1964). Rahsaan é o solista perfeito para as composições de Mingus. Sua contribuição em temas como “Old Blues For Walt's Torin” e “Eat That Chicken” (recheada de riffs Dixieland) é fundamental. É uma pena que tenha tocado só mais uma vez com o mestre Mingus (Em 1974 no Carnegie Hall, em uma jam session registrada pela Atlantic).

Durante os anos 1960, grava prolificamente como líder pro selo Mercury. No final da década, sonha com o episódio do colírio que o cegou e passa a crer que vive dentro de uma lágrima gigante. Na mesma época se interessa por misticismo e incorpora o Rahsaan no nome. Uma temática onírica, surrealista, dá o tom de suas composições. Passa a circular com os psicodélicos californianos e, ao lado do Grateful Dead, se apresenta em happenings promovidos por Ken Kesey e seus Pranksters. Participa de uma jam com Jimi Hendrix. Lança os celebrados The Inflated Tear (1967) e Volunteered Slavery (1969), ambos pela Atlantic. O primeiro traz composições originais, com exceção do tema ellingtoniano “The Creole Love Call”. Já o segundo, graças à pressão da gravadora, inclui hits das paradas de sucesso ("My cherie amour", "I say a little prayer"). Kirk, que gostava das canções pop, chamava a atitude de "escravidão voluntária". Volunteered Slavery une gospel, blues, Beatles, Motown e Coltrane numa massa sonora delirante. Destaque pra canção-título, uma celebração de som e fúria cheia de soul, e pra fantasmagórica “Spirits Up Above”, cantada pelo “Coral de Espíritos de Roland Kirk”.

No início dos anos 70, participa do Jazz and People's Movement, grupo engajado na luta por melhores oportunidades de trabalho para os negros. Em 1972 é consagrado no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Cria o grupo de jazz-rock Vibration Society e se transforma em uma espécie de celebridade malucona. Eric Burdon o homenageia com uma canção no disco Eric Burdon Declares “War” (1970), e Roberta Flack lhe dedica um álbum inteiro, Killing Me Softly (1973). Mas a euforia, o ecletismo e a extravagância de Rahsaan eram motivo de controvérsia. O músico era considerado por muitos puristas como um espetáculo circense. Alguns críticos afirmam que, se tivesse se dedicado a apenas um instrumento, seria reconhecido como um mestre.

Em 1975 é acometido de um derrame que lhe paralisa os movimentos e morre dois anos depois. Uma vez declarou que, após a morte, “queria ser cremado e misturado à maconha pra que as pessoas o fumassem e tivessem idéias maravilhosas”. Não foi preciso, seu legado musical é o grande barato.
A seguir, Rahsan Roland Kirk em performance no início dos anos 1970 do hino freak "Volunteered slavery". Dez minutos de insanidade sônica num tour-de-force que vai do funk ao free, com direito a citação à Beatles ("Hey Jude"), passeio cego pela platéia, solo de concha e a completa destruição de uma cadeira ao final do espetáculo. A platéia, em delírio. Depois, "Blue rol No. 2" no Festival de Montreux, com de flauta de nariz, rap, rapé e a última estrofe tocada em três sax simultâneos.





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22.4.08

H&LA Dj set

Delícia de set o de Andy Butler no sábado, 19, num Vegas transbordado de gente. E longo. Quase três horas de uma aula de dance music com euro disco, italo disco, pop, salsoul, house e, claro, o hit das pistas deste terço de 2008: "Blind" (em versão remixada sem todo aquele swing de bongôs em fúria), faixa que abriu o set, causando comoção nos clubbers. Outra do álbum de estréia do Hercules & Love Affair foi "You Belong" (também em mix diferente). O que Andy Butler fez foi ligar os pontos, mostrando todas as referências que o inspiraram a criar sua própria música. E lá estavam as linhas de baixo pulsantes, os trompetes jazzie, os bongôs furiosos, o house de Chicago, o pop tipo diva de Madonna (com "Express Yourself") e a euro disco de Boney M. ("Sunny") e Ferrara ("Love Attack").
A foto aí embaixo é do blog SP:00.

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18.4.08


Pulp it!

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16.4.08

MALLU MAGALHÃES EM PORTO ALEGRE
A menina-prodígio-mais-hypada-do-Brasil fez show no Porão do Beco no último sábado, com casa lotada. Mallu, exageradamente infantil pros seus 15 anos de idade, conquistou a platéia com seu jeitinho meigo. O público, provinciano como não poderia deixar de ser, reagia eufórico ao menor gesto da menina. Mas o hype em torno dela não é infundado: a garota tem talento, carisma e ótima presença de palco.
Aí embaixo, trecho do show registrado pelo Radar.


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15.4.08

FRONTEIRAS FOR DUMMIES: EDGAR MORIN

Cheguei esbaforido no Salão de Atos da UFRGS, em fuga após o trabalho, despenteado, suado, mochila, casaco, sacola. Dando pistas de que não vinha de casa, sem banho nem perfume. Muita gente perfumada no auditório (lotado). Impressionou também a quantidade de gostosas. Foi-se o tempo que, pra posar de inteligente, mulher tinha que ser feia. As lindas também pensam. Era o que parecia dizer a peituda espremida num decote catedrático que entrou fatal no salão, pretinho básico dos pés à cabeça (ou ao menos até o decote), enquanto eu me arrumava na cadeira, constrangido, cheio de acessórios inapropriados pra quem vai fazer um curso de altos estudos culturais, tipo tênis novo na sacola.

Naquela de sair cedo de casa, tendo de emendar um compromisso no outro, tarefas várias de segunda-feira, cabeça a mil logo pela manhã, fui incapaz de colocar na mochila qualquer coisa com a qual eu pudesse fazer uma anotaçãozinha sequer. Restariam as mentais. Meu cérebro e eu, pensei.

O evento começou com a condução de Ruy Carlos Ostermann. Depois os discursos das autoridades presentes e o prefeito ainda teve a presença de espírito de declarar que político não deveria ser convidado a falar em eventos como aquele. Foi aplaudido. Representando a governadora, o chefe da casa civil não teve a mesma sorte e a platéia emitiu um grunhido de consternação ao ouvir seu nome ser chamado logo em seguida.

Então o ilustre palestrante foi convocado. De um assento na platéia, caminhou lentamente pro palco acompanhado de uma das atendentes (gostosas, by the way). Um senhor pequenino com pouquíssimos cabelos brancos ao lado da cabeça. Um dos grandes pensadores franceses da segunda metade do século XX, de um tempo em que a França dava ao mundo cabeções ilustres. Mas ao contrário de outros de seus conterrâneos/contemporâneos com envergadura craniana semelhante, Edgar Morin está bem vivo. O intelectual de 86 anos, doutor honoris causa por nada menos que 17 universidades, foi o primeiro convidado pra série de 15 palestras da edição 2008 do curso Fronteiras do Pensamento.

Num português tosco, se desculpou por fazer a palestra em francês. Na próxima faço em brasileiro, emendou. O tema de sua fala era 1968-2008: o mundo que eu vi e vivi. Uma hora depois, 40 anos de História tinham passado em meus ouvidos (a despeito de algumas falhas na transmissão do tradutor simultâneo).

Primeiro ele explicou como o homem via a si mesmo àquela altura do campeonato: ele (o homem, você, eu, sua tia etc.) tem consciência de sua insignificância diante do universo em expansão e sabe que nada o separa da natureza, ele é parte dela. E foi assim que a ecologia, ciência criada no final do século XIX, passou a ganhar cada vez mais posições no ranking do pensamento científico. Sobre o emblemático 1968 e suas revoltas, Morin falou da busca paradoxal de autonomia e comunidade: ser livre e ao mesmo tempo pertencer. Nessa época, surgiu a contracultura pra combater a autoridade. Foi a estréia da adolescência (porque até então era criança ou adulto, não tinha nada no meio). O ex-comunista também refutou o neoliberalismo de Fukuyama. Foi o século que terminou com a chegada dos anos 1990, um século curto que nasceu atrasado em 1914. Pra Morin a História não acabou porque novos desafios surgem no horizonte do homem. O capitalismo dá sinais de ruína com a crise da hegemonia norte-americana. Países antes chamados periféricos tomam lugar no tabuleiro geopolítico e cultural. A globalização cria positividades e negatividades que se chocam.

Mas a maior quebra de paradigma é que o homem perdeu o futuro, pois ele não acredita mais no progresso tecnológico que trará o bem-estar. O progresso traz armas de destruição de massa e mata a natureza da qual o homem é parte. O futuro é igual à morte. É por isso que ele volta a pensar como no passado, quando acreditava que o céu era o espaço da plenitude. Daí os fundamentalismos e suas estúpidas guerras santas.

A probabilidade é de que o homem se destrua. É matemático. Mas Edgar Morin, em sua enorme generosidade, acredita na improbabilidade. Porque o improvável também pode acontecer. É matemático. Evocando a metamorfose da lagarta em borboleta, ele pergunta: quem poderia pensar que aquele ser rastejante voaria tão alto? A origem está diante de nós.

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7.4.08

ARQUEOLOGIA NO DISCO RÍGIDO: 2002
(Curioso notar que nunca diz o ano em cartaz de show (depois é um custo pra lembrar quando). Esse foi do primeiro de uma série de cinco Rock Fights dos Minimaus, cada edição contra uma banda diferente. Abaixo, o relise de imprensa prometendo o disco que nunca foi finalizado.)

*ROCK FIGHT*

Nocaute sonoro
Riffs que matam
Rock pauleira


MINIMAUS X SPACE RAVE

Dois rounds de shows matadores

Quinta, 17 de janeiro
Garagem Hermética

Escolha seu lado e aliste-se nessa batalha!

R$ 6 (valendo uma cerveja e um tomate)

«««««saiba mais»»»»»

No lado direito do ringue, pesando quase 10 anos de estrada, a Space Rave promete um show barulhento. A banda mistura Sonic Youth com Walter Wanderley e de uns tempos pra cá tem se dedicado a composição de trilhas sonoras para filmes gaúchos. Uma das canções do grupo, a instrumental “Moviola”, deve ser incluída no Cd do Fórum Social Mundial. A Space é liderada por Eduardo Normam que (dizem as más línguas) teria jurado de morte um dos integrantes dos Minimaus.

No lado esquerdo os Minimaus chegam preparados para a batalha. Com os corpinhos em forma e a cabeça cheia de Iggy Pop e idéias terroristas, têm como filosofia que a melhor defesa é o ataque. O grupo entra em estúdio em fevereiro para a gravação de um Cd independente, que terá como produtor o mestre Thomas Dreher. A respeito das supostas ameaças, o vocalista Leo declara: “Somos piores que o Charles Bronson! Vamos tocar o horror, instaurar o caos e se eles pegarem pesado, não dá nada porque o Rick tem corpo fechado.”

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6.4.08

ARQUEOLOGIA NO DISCO RÍGIDO: 2003
(Esse foi pro Ponto de Vista, site do professor Wladimir Ungaretti.)

A LENDA DE BUDDY BOLDEN
Buddy Bolden foi o inventor do jazz.
Assim nos conta a História, afeita a conclusões simplificadoras e reducionistas. Nada disso, o jazz foi uma invenção coletiva. Surgiu na virada do século XIX para o XX, a partir da mistura de duas correntes musicais: uma sacra (gospels e spirituals) e outra profana (ragtime, blues e minstrels).

Buddy Bolden foi escolhido para protagonizar o inventor do jazz porque ao longo dos anos sua figura se tornou mítica na história da música. Não deixou gravações do som revolucionário que extraía de sua corneta. Suas façanhas (tanto musicais quanto sexuais) nos chegaram através de testemunhos – muitas vezes fantasiosos – de ex-parceiros, ex-amantes e velhos desafetos, e a única imagem que temos de sua pessoa é uma foto esmaecida em que aparece ao lado da antiga banda. Ainda pesa o fato de que sua carreira musical tenha durado pouco mais de uma década e que tenha passado seus últimos vinte quatro anos de vida num hospício.

Charles Bolden nasceu em 1877 em New Orleans. Em fins da década de 1890 iniciou carreia profissional como músico nos salões de Storyville (o famoso Distrito da Luz Vermelha da Louisiana onde viviam centenas de prostitutas). Durante o dia, Bolden trabalhava como barbeiro e editor do jornaleco de escândalos The Cricket. Alguns dizem que também foi gigolô e que através do contato com as prostitutas obtinha as fofocas para rechear as páginas de seu jornal.

Dotado de uma personalidade carismática, se tornou muito popular na New Orleans da virada do século. Seu tour-de-force era o tema “Buddy Bolden’s blues” (também conhecido por “Buddy Bolden's stomp”, “I tought I heard Buddy Bolden say” e “Funky Butt”), uma música ousada, carregada de referências sexuais. Segundo o clarinetista Sidney Bechet: “quando Bolden tocava, as pessoas começavam a cantar e a polícia, a bater nas cabeças delas”. Sua performance era incendiária.

Nesse período, começa a dar os primeiros sinais dos distúrbios mentais que se agravariam com o abuso do álcool nos anos seguintes. Em 1906 foi internado pela primeira vez após agredir a própria mãe. Um ano mais tarde, durante uma parada em New Orleans, abandonou a corneta e nunca mais voltou a tocar. Após novo acesso, é levado ao manicômio, onde permanece até a sua morte em 1931. A partir da década de 30, com a popularização do jazz, cresce a lenda sobre sua figura.

O jornalista Donald Marquis é o responsável por compilar toda a informação que se tem hoje sobre Bolden. Em meados dos anos 70, realizou uma exaustiva pesquisa que resultou na obra “In search of Buddy Bolden”. Muito do levantamento de Marquis acabou por desmitificar a aura de gênio musical em torno do artista, salientando o caráter coletivo da origem do jazz.

Em 1976, o escritor canadense Michael Ondaatje publicou “Coming through slaughter”, uma obra de ficção sobre a vida do músico. O livro apresenta uma linguagem poética e fragmentada. A história de Bolden é contada nas vozes de diversos narradores – como no jazz em que cada solista improvisa sobre um mesmo tema. Particularmente interessante é a ambientação que Ondaatje faz de New Orleans, destacando a importância das zonas de meretrício na formação de uma das manifestações artísticas mais originais do século XX. A novela foi lançada no Brasil pela Companhia das Letras sob o título “Buddy Bolden’s blues”.

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4.4.08

Se é pra alegria geral da nação garageira, diga ao povo que...

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE

Capítulo 19 - Electronica ou Flashpower no paraíso

Uma lua cheia de filme iluminava a noite. No pátio, almofadas e colchões se misturavam aos corpos espalhados nas posições mais relaxantes, tipicamente chill out. Todo mundo se querendo. Do bar vinha o ruído de conversas e risadas misturado à música sincopada que saía através dos janelões e se espalhava no espaço, molécula por molécula, um som ritmado de matizes sintéticas irradiando no ar do verão. Reclinei a cabeça entre espasmos lisérgicos, deitado no chão, ao ar livre, almofadas macias e a estimulante companhia de duas garotinhas que na última semana tinham se tornado assíduas e me rodeavam como se eu fosse o dono.

Drinks energéticos por conta e o debut das garotinhas transcorria que nem o paraíso, se é que tem Flashpower lá. Elas me tratavam como um cachorrinho alimentado a guloseimas e eu ia de uma a outra, lépido e bem amado, quando o Oriano irrompeu não sei de onde completamente transtornado. O maxilar cerrado, a cabeça virando de um lado pro outro, cérebro envenenado de pura paranóia. Pura não, malhada. O transtorno era tão grande que o Oriano partiu pra cima. Não fosse a lua cheia eu diria que era culpa da cocaína.

Quê isso, Oriano, tá loco? Eu aqui um cocker e tu chega total pitbull.

O Oriano piscou várias vezes e balbuciou o dobro de desculpas. Perguntou se a minha mãe estava bem e, quando eu disse ótima, acenou um tchauzinho e voltou pro bar. Eu conhecia o Oriano há pelo menos uns dez anos. Ele tinha sido namorado da filha de um ex-namorado da minha mãe. Tipo um cunhado, resumindo. Um skatista gente boa, meio grunge, ligado no som dos Red Hot Chili Peppers que nunca me faria mal. Mas as ninfetas não sabiam disso e evaporaram rapidinho. Voláteis, as meninas.

Fiquei um tempo no chão do pátio, atirado nas almofadas. A lua branca lá no alto e a música hipnótica irradiando no espaço. Tomei fôlego e rumei pra dentro do bar, não sem antes cumprimentar vinte pessoas, dar pegas em três baseados e recusar pelo menos uma oferta de pó. Era uma noite agitada, mais uma edição da Full Moon Party, a festa de música eletrônica mais badalada do Garagem.

*

A Full Moon foi criada por três amigas – Ale, Cláudia e Lúcia – que mais tarde produziriam outras festas marcantes na cidade, como a noite drum’n’bass Quarta Quebrada, a arrassa-quarteirão oitentista Balonê e a pioneira rave local Fulltronic.

Lembra a Ale:

– Foi em meados de 97, quando a cena eletrônica ainda engatinhava no Brasil. A gente se achava muito entendida do assunto e jurava que tinha uma produtora: a Brixton Productions. Era o comecinho da internet no país e passamos a ter acesso a muita informação por causa disso. O Fim-de-Século era o único clube de música eletrônica na cidade e a gente já tava cansada de ouvir sempre o mesmo repertório, das limitações técnicas dos djs de lá e da falta de novas perspectivas e festas. Com a Full Moon, abrimos espaço pra outros estilos da música eletrônica, não só house, trance e techno, que era o que geralmente rolava nas festas. O pessoal da eletrônica mais experimental, todo ele, passou por lá: a galera da Fusion, de Canoas, que tinha um ótimo repertório, mais underground, importado de Detroit: Luciano Araújo, Luciano Benites, André Marques, Ilton Palma; os meninos de Esteio, da turma dos breakbeats: Dani Breaks, Maurício, Cretino e o Ed (o único dj de gabba que Porto Alegre já teve). O Telmo Lanes também costumava tocar e até o Herrera depois que saiu do Fim-de-Século.

Outro grande barato da Full Moon era a programação visual da festa. As meninas introduziram uma linguagem mais contemporânea pros flyers, que até então eram umas felipetas fuleiras de xérox. Elas também se puxavam na decoração, que mudava a cada festa, tudo feito por elas mesmas, que passavam a tarde inteira subindo e descendo escadas, martelando e pregando, cortando e colando, uma função a qual se dedicavam com devoção quase religiosa. Os primeiros lay-outs foram inspirados nos mangás e animes japoneses e logo depois veio a temática espacial, antecipando o que mais tarde se tornaria um padrão nas raves e festas de música eletrônica. As meninas também alugavam uma tonelada de equipamento de luz e som e as pick-ups eram instaladas no palco, levando os djs a tomar um espaço geralmente ocupado pelas bandas. A festa era um dos principais destaques no calendário garageiro e atraía uma fauna diversa que incluía aficionados da cena eletrônica, roqueiros de mente aberta, curiosos em geral e os que iam lá só pra comer gente. Porque rendia.

Rendeu também algumas boas histórias. A Ale, again:

– Uma vez apareceram uns atletas japoneses que estavam passando uma temporada na cidade. Ficaram surpresos com a decoração inspirada na cultura deles e fizeram amizade com a minha irmã. Lá pelas tantas nos deram uma real que nos deixou desmoralizadas: as coisas escritas em japonês na decoração estavam totalmente erradas, não faziam o menor sentido. Lembro de como nos divertimos quando um cara levou garrafas de dois litros de chá de cogumelo e distribui na festa, tipo suquinho. Outra histórica foi quando os vizinhos ficaram revoltados com o som alto e a zoeira na área dos fundos. Jogaram uma dúzia inteira de ovos na galera e ainda chamaram a polícia que nos fez baixar o som na marra. Lembro também dos cafés da manhã na padaria da esquina, onde o nosso querido Cláudio Monstro consumia a iguaria de um litro de iogurte de morango com três quindins dentro. Teve ainda a amiga que sentou no colo do namorado, num cantinho da pista, jurando que ninguém via que ela tava com a saia levantada, e o cara mandando ver. E tem a do Alex que uma noite foi embora um pouco mais cedo. Ia pela Independência em direção ao Centro pra pegar o ônibus, quando dois moleques tentaram assaltá-lo. Ele não teve dúvida, saiu correndo e voltou direto pro Garagem. Moral da história: mesmo querendo, o povo não conseguia ir embora antes do sol raiar.

A Fusion foi outra festa eletrônica clássica. Bem mais alternativa e maldita, abrigava a turma de Detroit especializada em techno de Canoas. Ou seria o contrário? Canoas, o melhor exemplo daquele conceito muito manjado em arte contemporânea: um não-lugar. Naquela cidade cinza, cortada por pistas e trilhas, em alguns daqueles prédios carcomidos e pichados, moravam o Luciano Araújo e seus comparsas, uns freaks conectados com o melhor da produção de música techno do planeta. Esses caras acharam seu espaço na agenda garageira e assim nasceu a Fusion. A maioria dos clientes, roqueiros ortodoxos, não curtia a proposta e as festas nunca fizeram muito sucesso. Uma amiga as chamava de Fujam.

Também tinha o Calvin e a turma que freqüentava a antiga Technique, uma loja que abastecia a província com lançamentos do longínquo mercado fonográfico internacional. Esse povo armou as primeiras festas eletrônicas no bar, lá por 94. Na mesma época aconteceu o Electronic Days. O festival mostrou um lado experimental da eletrônica, mais pro industrial com a velha bateção de sucata e outros clichês do gênero. Tudo produzido de forma muito amadora, com orçamento enxuto e prejuízo garantido. Lembro da apresentação do Loop B. Antes da passagem de som, ele desceu no pátio e, depois de fuçar nuns entulhos da lavanderia do vizinho, voltou de lá com uma carcaça de máquina de lavar, na qual entrou durante o show e nela executou um solo de furadeira. Barulho do inferno, se é que lá tem máquina de lavar.

Um marco da nossa iniciação eletrônica foi em 96 quando compramos nosso primeiro Chemical Brothers. No ano seguinte, outra aquisição marcante. Uma noite o Ricardo entrou no escritório e disse:

Olha o que eu consegui, troquei por duas cevas com um cara.

O cd tinha uma capa legal, parecia o bordado de uma jaqueta muito descolada. O nome também era bacana: Daft Punk. O Ricardo deu um fade no som e depois colocou a música que pouco tinha a ver com a tosqueira em três acordes do punk. Era um house pesado com jeitão retrô de teclados vintage e vocoder, uma puta pegada funk. Fissuramos na hora. Clássico desde o princípio.

*

Depois de concluir a maratona (com obstáculos) de gente querendo assunto e oferecendo drogas, entrei na salinha dos fundos. Um bando de malucos amontoados sacolejava na pista Plano B da Full Moon, uma pistinha alternativa que misturava big beat com funk, jazz com drum’n’bass, disco com raga. Um clima gostoso de festinha de apartamento com o som do Dani Breaks fazendo balançar os corpinhos na sala apertada.

Who’s that lady...

Cantavam os Isley Brothers e os corpinhos balançavam tanto que o chão tremia e o Dani era obrigado a colocar umas espumas embaixo dos cd-players pra amortecer o equipamento.

Atravessei o mar de corpinhos balançantes. No meio da pista encontrei a Ale, de óculos escuros e um longo copo (cheio) na mão. Uísque com energético, eu poderia apostar. Dei um beijo de oi, ela retribui e seguiu dançando. No corredor, me espremi por entre a fila do banheiro e a parede, uns passando a mão na minha bunda, eu passando a mão na dos outros, loucura, até sair no outro lado. No bar, a situação era a mesma: gente. O Gelson, nosso barman, um bailarino profissional que hoje mora em Gênova, se virava em mil pra atender todo mundo. Sempre com a maior categoria: pliet, garrafas abertas, pirueta, dinheiro no caixa, pliet, troco.

Segunda-feira, contas pagas.

Pensei, sorrindo em segredo, enquanto fugia antes que o Gelson viesse pedir uma força no balcão. Ao transpor a porta que separava o bar da pista principal entrei num universo paralelo. Um breu enfumaçado (sabor framboesa) tomava conta de tudo e eu distinguia apenas vagos corpos, muitos corpos, e uns ideogramas fosforescentes entre os flashes da luz estroboscópica. A música era intensa, os graves faziam tremer o piso e vibravam direto no peito. Os agudos zuniam por cima, na altura do pé direito da casa antiga, e depois atravessavam o cérebro furando os ouvidos. Os médios ficavam, é claro, no meio, confundindo tudo. A música certa com a droga certa. Tóin!

*

Em transe dançante após tempo indeterminado, senti um cutucão no ombro. Demorei a entender o que acontecia, completamente absorto no ritmo dos BPMs. O Gelson escapara do balcão depois de um spacato.

Banheiro, ele disse.

Resignado, fui pro balcão. Ser dono tem suas desvantagens. Trabalhar, por exemplo. Fiquei ali, abrindo tampinhas e coletando dinheiro enquanto o Gelson fazia xixi. Eis que: surpresa. As garotinhas que tinham evaporado depois da chegada pitbull do Oriano, mil anos-luz-estroboscópica atrás, apareceram de repente. Tirei uma latinha de Flashpower do freezer e balancei no ar. O Gelson voltou (em grande estilo, dando um salto tipo O quebra-nozes sobre o balcão), peguei os drinks e rumei pra pista. As garotinhas me acompanharam. Eu era o dono do paraíso.

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3.4.08



PULPISMO...

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