29.5.08



Porque a noite é uma deliciosa repetição...

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27.5.08

FRONTEIRAS FOR DUMMIES: BETO BRANT E JOSÉ PADILHA

Destaques do 3º encontro do Fronteiras do Pensamento:

1) Os All-Stars prata do Roger Lerina, o mediador do evento. Tinha visto um par igualzinho, horas antes, nos pés de um carinha no centro. Lançamento, decerto. E eu não conseguia parar de pensar: será que tem com cano longo?

2) A queridíssima Prê, que eu não via há muito tempo. Quando ficava chato, Prê e eu batíamos um papinho (sussurrando, é claro, somos elegantes) e, lá pelas tantas, ela me soprou a frase que definiu a noite: intuição versus método. A Prê é foda.

O Beto Brant é figurinha fácil por aqui, quase um Fabrício Carpinejar. Nas seis semanas de filmagens do Cão sem dono, eu o via em todos lugares: boteco de esquina da Demétrio, restaurante italiano, festinha no apê do Dudu, antigo Beco. Ainda que não tenha conversado com ele, deu pra sacar a sua personalidade, principalmente através dos relatos dos amigos que trabalharam com ele, mas também por vê-lo trabalhando. Tudo de um jeito muito aberto, intuitivo. Pura emoção.

“Se eu tivesse juízo, não teria vindo.”

Convenhamos, um péssimo início. Beto não parecia confortável e já saiu dizendo que não se sentia habilitado a falar do cinema brasileiro. Iria falar do que o levou a fazer cinema, de si próprio. Não tinha o domínio de palco de Fernando Arrabal ou Gerald Thomas, nem amigos como Picasso ou Beckett, então a coisa saiu meio trôpega. Entre boca seca e goles de água, Beto divagou sobre infância, pai e amigos. Alguns momentos de singeleza, mas achei que demorou a chegar no ponto. Passou trailers, o que eu achei muito chato, sem me dar conta de que talvez seus filmes não tivessem sido vistos por muitas pessoas ali. Pouco falou sobre seu processo criativo porque, creio, não deve pensar muito nele.

Seu interesse é pelas pessoas e por suas histórias de vida, alimento de sua arte. Destacou a amizade e a parceria com Marçal Aquino, com quem trabalhou em cinco filmes. O primeiro, Os matadores, representou o fim de uma visão bucólica do campo, herança dos tempos da faculdade de agronomia, passeios na fazenda etc. Uma espécie de trilogia da violência se completa com Ação entre amigos e O invasor. A ruptura acontece em Crime delicado, um filme intimista e “auto-reflexivo”, que fala de arte. O individual em lugar do coletivo.

Mas daí o tempo já era curtíssimo e o Roger em seus tênis prata foi obrigado a avisar: vai que é curto (o tempo, não o cano do tênis, que, aliás, era). Beto Brant quis encerrar ali mesmo, mas acabou falando uns minutos mais sobre o pintor mexicano Felipe Ehrenberg, que interpreta um pintor em Crime delicado, numa intrincada construção que embaralha as, perdão, fronteiras entre vida e arte. O depoimento de Ehrenberg é parte do filme. Após um terremoto no México, o artista abandonou seu atelier e foi ajudar no salvamento das vítimas, numa forma direta de ação. Depois de presenciar tanta violência, tanta morte, houve uma transformação em sua arte e ele foi buscar no erotismo (a celebração da vida através do sexo) sua inspiração. Algo semelhante tinha se passado com Beto Brant (rimou!) e ele agora voltava suas lentes pra outros lados. Pra dentro, quem sabe. Falou também, e com muito carinho, da experiência de imersão porto-alegrense de o Cão sem dono. Sugeriu que assistissem ao filme. Em versão pirata, que fosse. Afinal, apenas cinco mil pessoas o tinham visto nos cinemas da cidade em que foi rodado.

Em contraponto ao divagante primeiro palestrante, José Padilha era a eficiência, o pragmatismo e a precisão em pessoas, todas sob o mesmo boné. Água e vinho, sendo o Beto obviamente o vinho (José Padilha deve ser abstêmio). Com a bola toda, trazia no currículo o documentário Ônibius 174, considerado um dos melhores do gênero, e sua primeira obra de ficção, o filme-evento de 2007 (muito graças a uma ação de pirataria), Tropa de elite, que conquistou recentemente o Urso de Ouro no Festival de Berlim.

No telão, organogramas e esquemas comparativos resumiam o tema de sua fala. Planilha, quer dizer, Padilha explicou que ia falar de filmes que “representam a realidade” e não de filmes que “não representam a realidade”, categoria que ele exemplificou com obras de ficção científica. A realidade representada pelos filmes sobre os quais iria falar era a violência no Rio de Janeiro e os filmes, além dos seus, Notícias de uma guerra particular e Cidade de deus.

Na equação de Padilha, há quatro grupos sociais envolvidos no cerne da violência gerada por consumo e tráfico de drogas: usuários, traficantes, policiais e a polícia especial. O Estado se relaciona com todos os quatro grupos de formas diferentes, sendo condescendente com usuários e torturando pessoas como Sandro Nascimento, o personagem real de Ônibus 174. Para Padilha, não se trata de uma guerra particular porque não envolve apenas polícia e traficantes, mas cada um de nós. Não é a situação de miséria que provoca a violência, mas a ação nociva do Estado. Padilha prometeu um terceiro filme sobre o tema, que irá representar mais um grupo enredado na teia da violência: a classe política. Com a sutileza de um policial do Bope, antecipou o título da produção: Nunca antes na história desse país.

Ele revelou que constrói seus filmes (o que os diferenciaria de Notícias... e Cidade de deus) a partir de narradores que vivem o drama de dentro, num ponto de vista interno, em perspectiva distorcida da realidade. Prefere dar ao espectador o envolvimento emocional ao distanciamento crítico, e, pelo visto, o faz de forma bastante metódica. Normalmente são anos de pesquisas e entrevistas a fim de construir uma representação da realidade pela dramaturgia, segundo ele, isenta de julgamentos morais. Insistiu muito neste ponto, o de não fazer julgamentos morais. A ponto de me deixar desconfiado.

“Ninguém aqui tem mais autoridade moral e ética do que eu.”

Parecia dizer o Padilha, parafraseando mais uma vez o presidente da nação. E apontou o dedo pros maconheiros, lembrando que é deles a culpa pelas balas perdidas que matam criancinhas na guerra do tráfico.

“Sou favorável à liberação das drogas.”

E mais uma vez eu fiquei desconfiado (apesar de concordar que este seria o único final feliz possível pra Tropa de elite). No fundo, parecia que ele queria mesmo era ver os filhinhos-de-papai-cheiradores-de-pó sendo enrabados na prisão. Achei Tropa um bom filme de ação, mas lembro que o chamaram por aí de fascista.

A palestra foi aberta pra perguntas e eu pensei agora só piora. E a coisa foi num descendente até culminar com a última que, anônima e ingenuamente, indagava se os palestrantes poderiam falar de sua relação (“e do meio artístico”) com as drogas. O vinho, quer dizer, o Beto disse que isso era uma questão de livre arbítrio e cada um deveria fazer o que bem entendesse: é um direito pessoal usar ou não drogas.

“A primeira lei anti-drogas é a bíblia que proibiu a maçã”, brincou.

Padilha se colocou mais uma vez a favor da legalização, mas ressaltou a enorme falha moral que é fumar um baseado no Brasil.

“Um sujeito que fuma maconha plantada em casa é moralmente diferente de alguém que compra no morro.”

Dependendo do que planta, também pode ser mais chapado.

“Quem fuma maconha deve sair às ruas e protestar por seus direitos.”

E usou a expressão “dar a cara pra bater”, o que imediatamente me fez pensar num monte de maconheiro apanhando da polícia. As senhoras já se levantavam das cadeiras, quando Padilha finalizou:

“Ouvi dizer que sálvia também dá onda.”

Risadinhas entre a ala geriátrica e eu cá com meus buttons: e se desse, não proibiam?

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22.5.08

A FANTÁSTICA FÁBRICA
Parte IV - Finale
Capítulo 22 - A noite das garrafadas

Um episódio histórico do Brasil Imperial empresta seu nome pro evento-chave na decisão de vender a PORRA DESSE BAR de uma vez por todas. Tipo: agora deu. Nervos em frangalhos. O Ricardo vivia tendo uns pesadelos terríveis envolvendo incêndio, desabamentos, pilhas de mortos. No dia seguinte, vinha contar o sonho-tragédia:

Tudo pegava fogo, todo mundo morria e tu ia algemado num camburão.

O único sonho catastrófico que eu tinha era o seguinte: numa noite de bar lotado, o equipamento de som dava pau eu tentava resolver o problema, sem sucesso, enquanto o público, sedento por música, berrava na pista:

Enforquem o DJ!

Um sonho recorrente no sono intranqüilo daquelas manhãs depois de horas de trabalho, como se nunca terminasse a festa. Eu não temia premonições nem assombrações nem qualquer coisa que não fosse tão concreta quanto o extrato da minha conta bancária sempre no negativo. Mas naquela fatídica noite, pela primeira vez, senti medo. Um medo tão espesso que congelou minhas veias e deu o sangue frio necessário pra lidar com uma situação que eu definiria facilmente como caótica.

Aconteceu lá pelo fim da década. Nessa época, a esquina da Barros com a Independência era um ponto de encontro de gente de todo tipo: desde uns mauricinhos que freqüentavam o Líder e suas respectivas patricinhas, até os vagabundos do Bambu’s, passando por todos os tipinhos que iam no Garagem. O tradicional Bar Líder havia inaugurado um anexo que, nas segundas, servia chope em promoção e aquilo ficava lotado de gente, a ponto da galera ocupar as calçadas e dali a pouco já aparecia ambulante vendendo cerveja em caixa de isopor:

Long net gelada!

Em plena segunda, haja boemia. Pra tentar fazer com que pelo menos uma parte daqueles bêbados entrasse no Garagem, inventamos a Segunda 1,99. O título é auto-explicativo. Pra reduzir os preços e não ter prejuízo, a gente reduzia também os gastos com pessoal e trabalhava com um contingente enxuto de: um segurança, Dj Shufle e eu. Valendo o mesmo pro Ricardo. A gente improvisava um P.A. pra economizar no aluguel do equipamento do Vilson e o 1,99 de cada entrada ia direto pros bolsos dos músicos. Ou pros nossos, dependendo do quanto eles bebessem.

Aconteceu de uma dessas segundas cair em véspera de feriado. Se o povo farreava mesmo tendo de trabalhar no dia seguinte, imaginei que seria conveniente chamar um segurança adicional. Com dois brutamontes na retaguarda, Dj Shufle e eu daríamos conta do resto. O Ninja era o nosso segurança nessa época, um rapaz de feições orientais, muito educado, chamado Alex.

Ninja, tu tem algum segurança pra indicar?

Em silêncio, o Ninja respondeu que sim.

Às dez da noite a esquina estava completamente tomada. As pessoas bebiam em grupos no meio da rua, atrapalhando o trânsito. Muitos ambulantes em volta:

Long net gelada!

Abri espaço na multidão até a entrada do bar. Encostado do portão, aquele imponente portão de ferro trabalhado em arabescos que remonta ao início do século passado, estava o Ninja acompanhado de um senhor que tinha idade pra ser o pai dele.

Esse é o meu pai, disse o Ninja.

E na primeira oportunidade a sós com ele, enquanto a gente empilhava umas caixas atrás do balcão, reclamei:

Porra, Ninja, tu indicou teu pai! Que merda, o velho não vai dar conta.

O Ninja não disse nada. O velho apareceu e eu perguntei o nome. Jorge, disse. Falava com a língua presa.

O evento da noite era promovido pelo Dionísio, o carismático vocalista da Produto Nacional: uma confraternização da comunidade reggaeira local que juntou centenas de pessoas com dread-locks, todo mundo subindo no palco pra dar uma canjinha. Muita gente. Dentro e fora do bar, portanto. Graças a um comprido cabo que cruzava o forro do casarão, desde o amplificador na cabine de som até uma saída atrás do balcão, Dj Shufle e eu podíamos manusear o nosso cd-player carrossel pra cinco discos com destreza, mesmo em noites movimentadas como aquela. Enfiei ali dentro cinco coletâneas Garage Hits que a gente tinha mandado fazer, pirateando cds de todos tipos e origens (emprestada, a maioria). Só interrompi o set do Dj Shufle quando o Dionísio avisou que o show ia começar.

A reggaeira comia solta. De repente o Fabinho surgiu esbaforido:

Fechou o maior pau lá na rua.

O Fabinho era nosso vizinho do prédio da frente e sempre aparecia pra dar uma força. O Fabinho adorava dar uma força, tanto que acabou virando gerente. Deixei-o tomando conta do balcão e fui ver o que acontecia. Do patamar da escada, espiei o que parecia ser uma zona de guerra. Tumulto generalizado. Uma pauleira envolvendo cinqüenta pessoas, no mínimo. Outras correndo, gritaria, a mulherada chorando. Uma viatura da polícia surgiu na curva da Barros Cassal e quando o carro entrou na área de conflito foi atacado pela multidão. Das janelas dos apartamentos, os vizinhos atiravam ovos, frutas, legumes e até garrafas. Sabiamente, Ninja e Pai Mei tinham fechado o portão.

Deixa assim por enquanto, disse pra eles.

Voltei pro bar pensando que ao menos ali dentro estávamos seguros. No balcão, uma cliente falava com o Fabinho, parecia contrariada:

Roubaram a minha bolsa.

Lastimei o ocorrido e disse que ia tomar as devidas providências, apesar de não fazer idéia quais fossem. Passou um minuto e veio outra garota:

Roubaram a minha carteira.

E depois vieram outras. E outras. Sempre o mesmo:

Roubaram.

Digamos assim, concomitantemente, tinha essa turma muy sospechosa infiltrada na negritude, uma gangue de bonezinhos que vinha pegar cerveja de cinco em cinco minutos. Muita sede: três, quatro, cinco cevas de cada vez. Era só uma garota chegar comunicando o furto, que logo depois vinha um deles comprar bebida. Uma situação delicada. Alguém teria que resolvê-la, gentilmente, convidando-os a se retirar, no mínimo. Fabinho no balcão e fui chamar os seguranças.

Na rua, o quadro de batalha campal adquirira contornos ainda mais dramáticos. Do lado de dentro, Ninja e Jorge bloqueavam o portão com todo o peso de seus corpos, impedindo que uma turba raivosa invadisse o bar. Dois trogloditas davam voadoras contra o portão e os hunos restantes atiravam garrafas na direção dos seguranças, as centenas de long nets (sic) que agora jaziam, vazias e letais, no meio fio. As garrafas voavam no ar, explodiam nos arabescos de ferro do portão e se esfacelavam em estilhaços, polvilhando com vidro quebrado os braços e as mãos da Família Ninja, que resistia bravamente. Perigo real. E duplo. A fortaleza sendo invadida e uma gangue atuando sob nossas barbas. E se depois de abrir todas as bolsas e surrupiar todas as carteiras a gangue resolvesse investir no nosso caixa? Pela quantidade que bebiam era lá que devia estar boa parte da grana dos furtos. E os bárbaros, o que fariam se invadissem a casa? Estuprariam nossas mulheres, decerto. Ainda bem que a minha namorada estava em casa, pensei. Alheia a tudo, a comunidade reggaeira seguia tocando no palco, chapadona. Olhei as horas: uma da manhã. Ainda havia muita noite pela frente. O lance a era controlar o pânico e esperar o tempo passar. Rezar, talvez. Que Jah nos proteja.

*

Os policiais da viatura apedrejada devem ter pedido reforços, porque não creio que Jah chamaria a polícia. Sirenes anunciaram a chegada espalhafatosa dos tiras que rapidinho dispersaram a multidão bêbada enfurecida. A rua ficou vazia. Vazia de uma maneira desoladora, com garrafas quebradas e manchas de sangue no chão. Do lado de dentro do portão envergado a chute, uma montanha de cacos de vidro dava a idéia do que tinha sido o ataque. Ao lado, o Ninja, mudo como sempre, mirava o nada com um olhar vazio de catatonia. O velho Jorge, que tinha segurado o tranco melhor do que eu poderia imaginar, retirava pequenos cacos de vidro dos braços ensangüentados. Depois dessa noite, ele foi contratado como segurança oficial, porque seu filho Ninja não quis mais trabalhar com a gente. A tal da ironia do destino.

O show terminou. Deixei tocando uma baladinha espanta-freguês e logo acendi as luzes.

Acabou a cerveja, menti.

Chamei o Jorge e fomos procurar a gangue mas ela já tinha caído fora. Ainda bem. Antes de fechar, um cara entregou uma carteira que tinha encontrado no banheiro. Haveria outras, pensei. Com sorte alguém ainda poderia recuperar os documentos. Tranquei o portão que custou um pouco a fechar, empenado por causa dos pontapés. Caminhei por aquela Barros Cassal do pós-guerra até um orelhão. Liguei pra namorada e disse que ia dormir na casa dela. Na cama (deitado em posição fetal, conforme ela me contou depois), chorei como uma criança assustada.

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19.5.08

REPÚBLICA DO ROCK
Hoje tem a estréia do projeto República do Rock, às 8 da noite, no Renascença, com Locomotores e Rockfort. Até o final do ano, vêm mais vinte e tantas bandas em quinze shows quinzenais. A curadoria é minha e promete surpresas. Aí ambaixo o release, escrito pelo jornalista Marcelo Oliveira da Silxa. Xuxu, pros íntimos.
República do Rock abre dia 19
com Locomotores e Rockfort


República do Rock é um projeto que abre espaço para as novas produções independentes, promovendo o encontro de uma banda recém estabelecida no cenário musical e uma banda emergente, ainda buscando uma vaga entre os titulares do rock e do pop gaúchos. A estréia acontece dia 19 de maio no Teatro Renascença (av. Erico Verissimo, 307), às 20h, e apresentará Locomotores, um dos destaques do último Prêmio Açorianos de Música, e os punks da Rockfort (informações sobre as bandas abaixo).

Os shows acontecerão mensalmente às segundas-feiras, sempre às 20h nos teatros Renascença ou de Câmara, ao preço único de R$ 5,00, com bilheteria no local. A apresentação será de Leo Felipe, âncora do programa Radar da TVE e curador convidado da Secretaria da Cultura de Porto Alegre para o República do Rock.

O objetivo do projeto é oferecer a bandas novas e novíssimas, que mal têm acesso aos palcos de bares da capital e do Estado, uma chance de tocar e escutar o próprio som sob a iluminação de um teatro. Além de melhores condições acústicas e platéias mais atentas, o República do Rock quer oferecer mais um canal de divulgação para os sons do novo milênio na paisagem de informação musical da capital e do Estado.

Para reforçar isso, alguns shows serão gravados na íntegra pela TVE e exibidos em todo RS na programação normal da emissora. Entre as bandas emergentes que o República do Rock quer apresentar nas próximas edições estão: Amêndoa, Blush, Redoma, Apanhador Só e os Fantomáticos, além das já conhecidas do público roqueiro, como Identidade, Pública, Walverdes, Subtropicais e Damn Laser Vampires. Várias outras merecem ser citadas, mas a primeira temporada dará preferência a bandas que ainda não foram convidadas para shows realizados pela SMC, nem estão programadas para seus espetáculos neste ano.

O que: República do Rock: Locomotores e Rockfort
Data: 19 de maio
Horário: 20h
Local: Teatro Renascença (av. Erico Verissimo, 307)
Ingresso: R$ 5,00

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15.5.08

O cara, ponto.

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14.5.08


Just say Pulp...

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13.5.08

FRONTEIRAS FOR DUMMIES: FERNANDO ARRABAL E GERALD THOMAS

­Segunda noite consecutiva no Auditório da Reitoria.

Digressão exibicionsita: no domingo, show do cantor e guitarrista John Pizzarelli, que, acompanhado de um combo estilo West Coast, fez uma apresentação honestíssima na primeira parte, revisitando alguns dos maiores standards do gênero: “All of me”, “It’s only a paper moon”, “They can’t take that alway from me”, “I got rhythm”. Em seguida, uma homenagem a Frank Sinatra com três clássicos do repertório do bom&velho Old Blue Eyes: “Witchcraft”, “How about you” e “In the wee small hours of the morning”. Uma pena que na segunda metade a coisa descambou pra releituras insossas de Beatles e uma seqüência interminável de melosos hits da bossa nova, bem ao gosto da platéia que cantou a “Garota de Ipanema”. Direitinho, tenho que confessar.

Segunda palestra do seminário, já que o, perdão, prometido Christo e sua parceira Jeanne-Claude foram excluídos da programação (descumprimento de obrigações contratuais, segundo os organizadores).

O auditório não estava cheio como na noite inaugural. Achei uma cadeira na lateral, perto do palco. Na fileira da frente, um carinha com uns oclinhos de publicitário devorava um pacote de Cheetos, e eu jurando que isso só acontecia em coletivos da região metropolitana. Ao meu lado duas lésbicas conversavam com a arrogância dos que se julgam mais inteligentes do que os outros. Um delas era colega de profissão e segurava uma câmera de vídeo no colo. Num gesto de simpatia, ofereci chicletes. A outra me olhou com hostilidade e fulminou:

Conhece?

Não, a jornalista respondeu.

Por que, vocês não aceitam balas de estranhos?

A outra riu com sarcasmo:

Temos medo de sermos estupradas.

Olhei pra cara feia e respondi em segredo que com isso ela não se preocupasse.

No telão passava um documentário sobre o primeiro palestrante da noite. Depoimentos de intelectuais e artistas europeus eram intercalados com cenas de filmes, umas cenas escatológicas, cheias daquelas referências católicas típicas dos espanhóis (um elenco de punks encenando o milagre da multiplicação com hambúrgueres no lugar de pães, por exemplo).

Fernando Arrabal, poeta, dramaturgo, cineasta e ficcionista, deveria falar do “Surrealismo à Patafísica: onde está a vanguarda da arte”. Oba, pensei. Uma oportunidade de saber um pouco mais sobre essa escola filosófica inventada por Alfred Jarry, a ciência das soluções imaginárias. Mas como bom surrealista, Arrabal sequer mencionou a Patafísica.

Acompanhado de um cocodrilo (o espanhol é a língua mais divertida que existe) empalhado, que acariciava e beijava de tempos em tempos, o velho provocador contou histórias de sua vida, lembrou dos amigos (Brecht, Breton, Picasso, Dali, Duchamp, Ionesco) e reafirmou as obsessões que caracterizaram sua obra (sexo e a estupidez humana, entre outras).

O encenador de si mesmo, foi como se definiu. Vestia um traje chinês com um par de dragões (cocodrilos, segundo ele) e um espiral jarryano bordados na camisa negra de largos punhos dourados. Caminhava de um lado pro outro e parecia se divertir bastante. Lembrou que aquela era a segunda vez na cidade. A primeira tinha sido há dez anos, quando foi patrono da mesma Feira do Livro que homenageou Paulo Coelho.

“Não tive culpa”, brincou. E despejou outras máximas deliciosas na platéia:

“A inteligência é a arte de servir à memória.”

“Se eu fosse Gary Cooper iria dançar pela noite em vez de escrever.”

“Imaginação é a arte de combinar as recordações.”

“Um comunista só crê nos Estados Unidos.”

“Ou inteligente, ou gênio.”

“A próstata é misteriosa.”

“Picasso era um pesado insuportável.”

Em concordância semântica com o nome do famoso pintor, Arrabal afirmou que Picasso era bem-dotado e sofria de priapismo. Ficava de pau duro ao simples sol da manhã. Até que a misteriosa próstata tirou sua virilidade, enquanto a esposa, a jovem e bela Jaqueline, amava verdadeiramente o pintor. Porque “o amor engendra a castração”.

Uau!, gritei mentalmente.

“Un cocodrilo habita my vida”, disse o pequeno grande homem apontando pros dragões no peito. Abriu a camisa, revelando uma reprodução da “Aula de anatomia do Dr. Tulp” estampada na camiseta. A enigmática tela pintada por Rembrandt em 1632. Ou 1932, segundo Arrabal, o ano de seu nascimento.

Até que uma das atendentes gostosas o interrompeu com um papelzinho, claramente indicando que seu tempo de fala havia terminado. Quando o apresentador (um jornalista do Jornal do Comércio, não lembro o nome) agradeceu a presença do palestrante, alguém berrou:

“Deixa ele terminar, porra.”

Ou quase isso. E quando foram perguntar se Fernando Arrabal podia terminar, soube-se que “aparentemente” aquela era a palestra do senhor Arrabal.

Se alguém ficou surpreso, imagino a reação após a palestra seguinte. Indignação, eu chutaria, aquele velho sentimento sovina de quero meu dinheiro de volta. A colega de profissão ao lado (que estranhamente só gravara um rápido take da palestra de Arrabal) já tinha me dito sobre o clima de hostilidade entre os dois palestrantes. “Aparentemente”, Fernando Arrabal e Gerald Thomas haviam discutido no jantar da noite anterior sobre quem era mais amigo de Samuel Beckett. A situação se agravara na entrevista coletiva quando perguntaram a Arrabal o que ele achava de Gerald Thomas.

“Thomas quem?”, teria respondido o dramaturgo espanhol.

Quem ri por último ri melhor, deve ter pensado Thomas Quem. E veio com tudo. Literalmente. Parecia recém chegado da rodoviária. Ou aeroporto, como talvez fosse mais apropriado pra um sujeito que mora em Nova York. Casacão, cachecol e uma enorme mochila, “aparentemente” cheia.

“Não trouxe o jacaré, é que eu superei a fase do teatro do ridículo, quer dizer, absurdo.”

Daí pôs a mochila no chão, foi tirando aquele monte de roupa e deixou o microfone cair, fazendo um barulhão. Encenador de si mesmo. Lembrei da frase de Arrabal e pouco me surpreendi com a representação do papel de polêmico que Gerald Thomas construiu pra si em 25 anos de carreira. Cidadão brasileiro e norte-americano, com uma educação privilegiada e uma biografia conturbada (li no Wikipédia que teria se envolvido em prostituição em Nova York. Na enciclopédia livre também li uma frase constante no site oficial do Fronteiras do Pensamento, ipsis litteris, como se diz naquela velha língua morta: “Trabalhando regularmente em no mínimo oito países, Gerald é visto pela opinião pública como um diretor polêmico pela maneira autêntica como expressa sua independência artística através do teatro”), encenou dezenas de peças marcadas pelo experimentalismo.

Caminhava de pra lá e pra cá de um jeito meio autista, ficando muitas vezes de costas pro público. Do alto de sua enorme boçalidade, ordenou que pusessem no telão a sua foto com Samuel Beckett. Depois passou uma espécie de clipagem muito cafona de suas montagens teatrais, enquanto proclamava:

“Não tenho me interessado muito por meu trabalho.”

Sugeriu que se falasse de outros assuntos: o último estupro no Louvre, o novo corpo no Tâmisa, o tráfico de cocaína no Rio. Declarou-se cansado de pessoas se exibindo em tom teatral. Dupla canseira, já que aquilo era exatamente o que fazia, tirando o notebook da mochila pra zombar da era da comunicação virtual, “aparentemente” um ato casual, em meio ao profundo tédio de ali estar.

“Vim aqui conhecer o anexo do teatro da minha amiga Eva Sopher”, confessou.

Recebeu alguns aplausos quando se manifestou contra o estado de Israel, que visitou uma vez por conta da revista Caras, já que nunca pagaria pra ir lá. Disse que devemos brincar com a tragédia da vida. Evocou Franco (em direta provocação a Arrabal) e Hitler e zombou da “gente do Bonfim” que abandonava o auditório. Enfadado, abriu pra perguntas e logo alguém gritou:

“Fala sobre o Barack Obama.”

Mexeu na longa cabeleira tipo Milli e Vanilli e disse que aquela era a luta pela qual poderia se engajar: colocar um homem negro na Casa Branca. Alguns aplausos foram ouvidos, mas o clima geral era de hostilidade. Tatibitate, um idiota leu uma pergunta constrangedora sobre o “papel das artes”, o que deu munição pro polêmico profissional tripudiar sobre interlocutor. Bem feito, pensei. Decretou a insignificância dos intelectuais num mundo de fome e miséria:
"A gente não existe. Vivemos numa bolha."
Terminou dizendo que não vivia de palestras e achava todo aquele circo uma enorme ação de marketing.

“O resto é hipocrisia”, disse encerrando prematuramente a palestra. E saiu sob vaias.

Na rua notei duas senhoras em exagerados casacos de pele comentando que tinham gostado muito do primeiro, mas que o segundo...

“Imagina o quanto ele ganhou pra fazer isso.”

Dei o braço a torcer pro escroto do Gerald Thomas: essa gente merece que lhe tirem o dinheiro.

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9.5.08

A FANTÁSTICA FÁBRICA
Capítulo 21 - Mais um corpo que cai

Sim, houve outro. Foi numa dessas noites loucas que contando ninguém acredita, tão inverossímeis quanto a realidade. Era comum o pessoal sentar no parapeito da janela pra tomar um arzinho, obrigatório em se tratando de verão, no bafo asfixiante de casa lotada e sem ar-condicionado. Nunca tinha acontecido de alguém cochilar bêbado e desabar lá de cima, do segundo andar do sobrado de pé direito alto, em queda-livre até o chão do pátio: ploft! Nunca até o Ned sentar no parapeito no maior porre e invariavelmente cometer a façanha. O Noites já tinha pulado dessa altura, mas ele era um bêbado consciente: entrou no banheiro, passou a chave, abriu a janelinha e pulou. Depois voltou pro bar, mancando, joelho detonado, entrou na fila do banheiro e ficou rindo enquanto o povo esmurrava a porta xingando o cheirador que supostamente se trancara lá dentro. Mas o Ned, coitado, não teve motivo pra rir. Era um publicitário gordinho, garageiro assíduo que não fazia parte do nosso círculo de amizades. Um desses tipos que a gente nunca nota a existência, não lembra o nome e sempre estende a mão dizendo muito prazer quando encontra. O Ned era tão invisível que não me surpreenderia se ninguém notasse a queda. Um mês depois eu perguntando pro Ricardo:

Tu já tinha visto aquele cara deitado no pátio?

Quem? Responderia ele.

Mas pra sorte do Ned alguém viu o acidente e espalhou a notícia. Daí o rebuliço de salvamento, o diz-que-diz que distorce a história até deixar as cinco vítimas paraplégicas e finalmente as piadinhas sarcásticas que transformaram a queda no assunto da noite.

Enquanto isso eu curtia minha noite de folga com a namorada no quarto-e-sala dividido com um chiuaua, dois gatos siameses fake e uma ninhada de gatinhos. What a life! Só fui saber do acidente no dia seguinte, quando o Ricardo contou a história: um gordinho bêbado tinha despencado da janela do bar até o chão do pátio: ploft! Lá embaixo, todo quebrado, foi socorrido, por um grupo de prestativos, gente que se entusiasma com qualquer desgraça, só pelo prazer da prontidão. Removeram o Ned inconsciente e o levaram pro hospital. Climão pesado que durou meio minuto até alguém gritar drogas! e tudo voltar ao normal.

*

Anos depois. Festinha boca-livre de produtora. No meio daquele mundaréu de chope sou apresentado a esse gordinho publicitário, o Ned:

Muito prazer.

Te conheço há anos, ele diz. E emenda:

Eu sou o cara que caiu do Garagem.

Ploft!

Então o Ned me contou a sua história:

– Esse era o primeiro trabalho legal que eu pegava em publicidade, uma conta que ia render grana, status, mulheres, a guinada na minha vida que até ali andava meio meia-boca. Fechei o contrato e fui comemorar no Garagem. Tomei todas e tu sabe o resto.

O que eu não sabia era que o Ned tinha quebrado a clavícula e não sei mais quantos ossos e ficou de cama durante seis meses e acabou perdendo a grande chance da vida porque o cliente do Ned rescindiu o contrato logo depois do acidente. Mas o Ned era um cara sortudo. Só perdeu um cliente no fim das contas. Melhor do que perder a vida, que, mesmo sendo meio meia-boca, era a única que ele tinha.

– O médico disse que só não me fodi completamente porque tava muito bêbado e inconsciente na queda. Se eu tivesse caído lúcido, tinha enrijecido o corpo e o estrago podia ser bem maior. Fatal, disse o médico.

Brindemos!

Foi a única coisa que me ocorreu dizer. O que não mata, salva.

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6.5.08

PapoCabeça no Cult

Novo projetinho, aí embaixo as infos...

Carol Teixeira e Leo Felipe apresentam o PapoCabeça no Cult. A edição dessa próxima quarta terá como tema “os outros” e, como convidados, o escritor Paulo Scott e a atriz Ingra Liberato. E agora o PapoCabeça tem um blog, entra lá: papopopfilosofico.blogspot.com

O que? PapoCabeça, debate pop-filosófico
Quando? Nessa quarta, dia 7, 21:00
Onde? Cult (Comendador Caminha 348)
Quanto? R$10,00

5.5.08

EDU K, live at Pulp

Em clima apocalíptico de dilúvio, a estréia do novo projeto festivo, a Pulp Freak Show, reuniu dois freaks de peso no palco do Porão do Beco, na última sexta: Tony da Gatorra e Edu K.

Tony abriu o show com seu protesto anti-capitalista (antes, o Flu já tinha caprichado numa discotecagem eclética e divertida no melhor espírito Pulp). O inventor da Gatorra lançava seu novo disco, Novos Pensamentos, na capital. Ao fim da apresentação, Edu se juntou ao gatorrista pruma jam com direito a refrão gritado: "detona essa porra, Tony da Gatorra!". A base tinha sido criada poucas horas antes, logo após a passagem de som.

Daí Edu assumiu o notebook e tocou uma hora e pouco de um set matador, calcado no fidget house, com pitadas de pancadão, edits, gritos e mashups. Lá fora a chuva insistente castigava a cidade. Dentro, o povo, guerreiro e muito afim de curtir o novo som do Edu, dançava endoidecido. Mister K apresentou em primeiríssima mão o set da nova turnê internacional (a sexta!) que incluirá Europa e Austrália. Vai botar os gringos nos bolsos. O blackout, que deixou a cidade às escuras durante quase todo final de semana, interrompeu a apresentação um pouco antes do fim. E eu ali do lado, me preparando pra operar os cedejotas. Sou um dj de sorte.
Noite perfeita, o apagão incluso.

Aí embaixo, o homem clicado por Maurício Capellari. With lasers!, by the way. E aqui um videozinho feito pelo próprio.


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3.5.08

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE

Capítulo 20 - Cinemeando

Se o Gus não se engana, começou em 1998 e foi até 2000. 16 edições com mais de duzentos filmes exibidos.

Uma delas com 585 pessoas, diz ele.

O evento foi criado por um trio de amigos que, na Porto Alegre dos anos 1990, andava às voltas com câmeras e projetores de super-8. O Gus, o Zanella e a Aline cursavam comunicação social e produziam uns curtas-metragens, tudo na base do paitrocínio. Garageiros de carteirinha, inventaram um tipo de cineclube junkie, na melhor tradição udigrudi, em que exibiam seus próprios filmes, produções de amigos e de outros realizadores iniciantes do país, além de pérolas esquecidas do cinema brasileiro. O Cinemeando no Garagem acontecia uma vez por mês no pátio da velha casa, simultaneamente à ferveção da festa, com música alta, bebedeira, pegação e o de sempre. Uma tela era estendida no muro, algumas fileiras de cadeiras em frente, projetor em cima de uma mesa e pronto: estava armado nosso próprio Cinema Paradiso. Ou mais adequadamente: Cinema Inferno. A platéia, composta por cinéfilos bêbados, estudantes universitários, cine-groupies, músicos e artistas frustrados em geral, nem se importava com os baldes d’água e os ovos atirados das janelas dos apartamentos por vizinhos enraivecidos com a gritaria de sessões tão alucinadas quanto obrigatórias como aqueles pornôs do Mojica que sempre passavam na finaleira. Pornografia nacional compartilhando democraticamente o projetor com videoarrrtes, produções caseiras, clássicos do cinema independente. Tudo apresentado muy informalmente, sem frescuras.

Alguns confirmados do Cinemeando:

Meu primo, de Nelson Nadotti, Carlos Gerbase e Hélio Alvarez. Esse filme era longo demais pros padrões festeiros do Cinemeando. Até que foi exibido numa ocasião, por falta de material. Noite chuvosa, uma das poucas sessões in-door do evento. Depois de quarenta minutos de projeção, lá pelas cinco da manhã, o filme foi aplaudido de pé.

Arrepiante, segundo o Gus.

Boi bom, do catarinense Petter Baiestorf, o Gordard do gore nacional. Exibido várias vezes, Boi bom mostra um bizarro duelo de gaudérios ao carnear um boi. O vencedor terá que beber o sangue da cabeça do bicho. Prato cheio pra quem curte tripas.

Os pornôs do Mojica supra-citados. Especialmente aquele em que uma mulher trepa com um pastor alemão e eu não me refiro a um clérigo protestante de origem germânica.

O Otto Guerra era um habitué do Cinemeando e vários de seus trabalhos foram exibidos: animações em super-8 e 16mm, a maioria comerciais antigos, e um documentário sobre a produtora Otto Desenhos. Nessa sessão, toda vez que ele aparecia na tela uma mina gritava:

Oootto, quero chupar teu pau!

Otto Guerra, o Don Juan dos acetatos.

Conforme o Gus, outro fato importante é que o Cinemeando gerou diversos namoros, alguns rompimentos e até casamentos. Resumindo, uma suruba danada.

Mas o caso mais folclórico foi quando o Zanella encheu de porrada uma loira da turma dos superoitistas. Não sei o que ele tinha contra ela, mas devia ser muito. Casa cheia, de repente explode a confusão. Briga! Alguém grita, e lá vou eu engrossar o coro do deixa-disso. Chego na cena do crime e vejo o Zanella chutando uma pessoa deitada no chão, os braços da vítima protegendo o rosto dos pontapés.

Quem será?

Reconheci a loira entre um chute e outro. Paguei uma cerveja antes de mandá-la pro HPS.

O Cinemeando alcançou renome nacional e promoveu várias estréias com filmes do circuito alternativo brasileiro. Depois, virou pauta pra imprensa local. Numa bela noite, uma emissora de TV mandou sua repórter com ligeiro sobrepeso pra cobrir o evento. Durante o boletim, assim que as luzes da câmera se acenderam, atrapalhando a sessão, o povo entoou em coro:

Sai gorda!

E a matéria nunca foi ao ar.

O Cinemeando também acabou rendendo um filme em super-8. Cinemeando no Garagem, o filme é um híbrido de documentário e ficção e foi rodado durante a sexta edição do evento. Por uma dessas casualidades tipicamente garageiras, a que teve o menor público.

80 pagantes, show do Planet Hemp na mesma noite, lembra o Gus.

Feito no improviso, o filme traz no elenco vários amigos da turma do super-8, personagens de uma trama noir de último minuto: mulher traída contrata detetive barato pra desmarcarar marido cafajeste. A maior curiosidade sobre Cinemeando no Garagem, o filme é que ele foi submetido à censura. Em prol da moral e dos bons costumes, of course. Conta o Gus:

– Os negativos foram enviados pra revelação nos Estados Unidos mas o filme voltou sem um trecho, acompanhado de uma carta de advertência que, em resumo, dizia: peito não pode.

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2.5.08


And the show must go on...

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